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A questão dos livros: o Google Books de um ponto de vista histórico

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9 junho 2010
ebooks, robert darnton

Após ser eleito para assumir a presidência da American Historical Association, Robert Darnton pensou em usar sua posição para ajudar pesquisadores, que tinham dificuldade em encontrar uma editora disposta a publicar suas monografias. O resultado disso foi o Gutenberg-e, um projeto ligado à Columbia University Press que oferecia uma bolsa para que eles não só completassem suas monografias, mas também as publicassem em formato eletrônico com imagens, vídeos e outros materiais multimídia.
Ao se dedicar a esse projeto, o historiador percebeu não só que havia alguns preconceitos contra o formato (principalmente no meio acadêmico), mas também que a publicação de e-books é mais complicada do que ele havia imaginado.
A partir dessa experiência, Darnton, que é apaixonado por livros raros, manuscritos e pergaminhos, encarou o desafio de pensar o livro em suporte eletrônico. Entretanto, ao invés de se basear simplesmente em especulações, ele usa seus conhecimentos sobre a história do livro, lembrando, por exemplo, que na época de Shakespeare não havia copyright, e o quanto isso torna difícil saber sequer qual é a versão original de suas peças, já que elas eram publicadas por diversas pessoas com inúmeras modificações.
Ele defende, acima de tudo, que a história do livro está profundamente ligada à história da sociedade, e que portanto uma proposta como a do Google Books pode trazer muitos benefícios, mas que justamente pelo seu caráter inovador também deve ser analisada com muito cuidado. (Leia mais sobre os efeitos do Google Book Settlement — em inglês.)
Robert Darnton hoje é diretor da Biblioteca da Universidade de Harvard, e vem ao Brasil em agosto para a Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP). Abaixo você lê um artigo dele sobre o Google Book Settlement, escrito posteriormente aos artigos publicados em A questão dos livros (tradução de Daniel Pellizzari).
* * * * *
O Google e o novo futuro digital
Por Robert Darnton
Nove de novembro é uma daquelas estranhas datas assombradas pela história. Em 9 de novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim, sinalizando o colapso do império soviético. Os nazistas organizaram a Kristallnacht em 9 de novembro de 1938, dando início à sua campanha aberta contra os judeus. Em 9 de novembro de 1923, o putsch de Hitler foi esmagado em Munique, e em 9 de novembro de 1918 o kaiser Wilhelm II abdicou e a Alemanha foi declarada uma república. Ainda que a data paire especialmente sobre a história da Alemanha, marca também grandes eventos em outros países: a Restauração Meiji no Japão, em 9 de novembro de 1867; o golpe de Bonaparte que encerrou definitivamente a Revolução Francesa, em 9 de novembro de 1799; e a primeira vez que os colonos ingleses avistaram terra americana a bordo do Mayflower, em 9 de novembro de 1620.
Em 9 de novembro de 2009, no Tribunal Distrital do Distrito Sul de Nova York, a Authors Guild e a Association of American Publishers estavam programadas para entregar um acordo que resolveria sua ação judicial contra o Google alegando violações de copyright no programa para digitalizar milhões de livros de bibliotecas de pesquisa e disponibilizá-los de graça na internet. Você pode achar que isso não se compara à queda do Muro de Berlim. É verdade, mas por vários meses todos os olhos do mundo dos livros — autores, editores, bibliotecários e muitos leitores — ficaram atentos ao tribunal distrital e seu juiz, Denny Chin, pois essa disputa aparentemente pouco relevante sobre direitos autorais parecia capaz de determinar o futuro digital de todos nós.
O Google já digitalizou cerca de 10 milhões de livros. Em que termos disponibilizará esses textos aos leitores? Essa é a questão apresentada perante o juiz Chin. Se ele interpretar o caso de forma superficial, conforme os precedentes de ações populares coletivas, pode concluir que nenhuma das partes foi prejudicada. Essa decisão removeria todos os obstáculos à tentativa da empresa de transformar sua digitalização na maior biblioteca e livraria da história. Se o juiz Chin tiver uma visão mais ampla do caso, o acordo pode ser modificado de modo a proteger os cidadãos contra possíveis abusos do poder monopolista do Google.
Ficou claro que o empreendimento (Google Books Search, ou GBS) ameaçava se tornar um monopólio ilimitado quando o Departamento de Justiça entregou um memorando ao tribunal alertando para a possibilidade de violação da legislação antitruste. Mais de quatrocentos outros memorandos e relatórios independentes também forneceram sinais de alerta sobre a escalada da oposição ao GBS. Em face dessa oposição, os reclamantes, com o consentimento do Google, requisitaram que o tribunal adiasse uma audiência marcada para 17 de outubro, de modo que pudessem revisar o acordo. O juiz Chin determinou 9 de novembro como novo prazo para que a nova versão fosse apresentada.
Mas esse grande evento acabou em decepção. Na última hora, o Google e os reclamantes requisitaram outra prorrogação ao juiz Chin, que lhes concedeu mais quatro dias. Assim, o momento mágico terminou não acontecendo em 9 de novembro, mas numa data menos auspiciosa: uma sexta-feira, 13.
Por que essa data parecia tão monumental? Os termos do acordo surtirão efeitos profundos na indústria do livro no futuro próximo. Pelo lado positivo, o Google possibilitará que consumidores comprem acesso a milhões de livros, protegidos por copyright e ainda em catálogo, para leitura em telas de computador ou equipamentos portáteis. Muitos outros milhões de livros — pelo menos 7 milhões de obras sob copyright mas fora de catálogo, incluindo milhões de “órfãs” cujos detentores de direitos ainda não foram identificados — ficarão disponíveis mediante assinaturas pagas por instituições, como universidades. Esse banco de dados, em conjunto com livros em domínio público já digitalizados pelo Google, formará um biblioteca digital gigantesca que crescerá gradualmente até um dia ultrapassar a Biblioteca do Congresso (que atualmente contém mais de 21 milhões de livros catalogados). Pagando uma assinatura módica, bibliotecas, faculdades e instituições educacionais de todo tipo poderiam ter acesso instantâneo a um mundo inteiro de conhecimento e literatura.
Mas o preço será realmente módico? Os argumentos negativos enfatizam o perigo dos monopólios e sua tendência de cobrar preços monopolistas. Igualmente importante é o alerta de que o controle do Google sobre o acesso aos livros reforçará seu poder sobre o acesso a outros tipos de informação, levantando questões de privacidade (o Google pode agregar dados sobre a leitura, os e-mails, o consumo, a moradia, as viagens, o emprego e muitas outras atividades dos usuários), concorrência (o caráter coletivo da ação judicial pode impossibilitar que outro empreendedor digitalize obras “órfãs”, pois somente o Google estará protegido contra processos movidos por detentores de direitos) e comprometimento com o bem público. Como empreendimento comercial, a missão primária do Google é gerar lucro para seus acionistas, e o acordo não deixa espaço para que bibliotecas, leitores e o público em geral sejam representados.
Uma discussão ampla a respeito dos prós e contras poderia transformar o Tribunal Distrital do Distrito Sul de Nova York num fórum, onde o debate acabaria dramatizando todo um espectro de questões literárias. Nenhum drama de tribunal aconteceu em 13 de novembro, pois nada aconteceu além da entrega do acordo revisto (que chamaremos de GBS 2.0 para distinguir da versão original, GBS 1.0). Mas a entrega teve sua própria importância, pois marcou o desfecho de anos de negociações difíceis sobre quem controlaria uma vasta porção de um cenário digital que só agora está ficando mais claro.
Não se pode duvidar que o GBS 2.0 será contestado por grupos e indivíduos que julgam não ter sido representados de forma imparcial pelas categorias de autores e editores. Esse caso pode levar anos para encerrar seu percurso pelos tribunais. Enquanto isso, o Google seguirá digitalizando; e, enquanto a situação legal for evoluindo, a empresa poderá conceber novas revisões do acordo (GBS 3.0, GBS 4.0 etc.). O público terá de estudar todas as versões para se manter atualizado sobre as regras do jogo enquanto ele está sendo jogado. Quem sairá vencedor no final não interessa apenas aos possíveis empreendedores interessados em competir com o Google, mas a todos que se importam com livros, ainda que o público esteja reduzido ao papel de espectador.
Como passo inicial rumo a uma solução definitiva, o texto entregue em 13 de novembro sugere até onde o Google está disposto a modificar o acordo original. O porta-voz da empresa saudou a versão revista como detentora de todos os benefícios e nenhum dos defeitos que se poderia esperar. Segundo Dan Clancy, diretor de tecnologia do Google Books, “o Google continua muito empolgado com esse acordo [...]. Ansiamos por seguir trabalhando com detentores de direitos em todo o planeta, de modo a cumprir nossa missão duradoura de ampliar o acesso a todos os livros do mundo”.
Os argumentos favoráveis ao acordo revisto, porém, vieram do Google e dos reclamantes que se tornarão seus colaboradores, caso ele seja aprovado. Para ter uma ideia dos argumentos contrários, basta analisar os memorandos e relatórios independentes entregues ao tribunal antes de 9 de novembro. (Os textos destes documentos podem ser consultados em http://dockets.justia.com/docket/court-nysdce/case_no-1:2005cv08136/case_id 273913.) Os protestos europeus são os mais reveladores. Embora se concentrem em questões de especial importância para os estrangeiros — acima de tudo, a incompatibilidade entre ações populares coletivas americanas e a proteção dos direitos autorais de não americanos —, demonstram como o acordo foi visto de uma perspectiva distante.
Os governos da França e da Alemanha enviaram memorandos exortando o tribunal a rejeitar o acordo “integralmente”, ou pelo menos os termos que se aplicam aos seus cidadãos. Longe de enxergar qualquer possível benefício público, eles condenaram o documento por criar um “poder concentrado e livre de controle” sobre a digitalização de uma quantidade imensa de literatura (de acordo com o memorando francês), e por fazê-lo (segundo os alemães) mediante um acordo “com motivações comerciais” e negociado “em segredo [...] atrás de portas fechadas pelas três partes interessadas: a Authors Guild, a Association of American Publishers e a Google, Inc.”.
Num contraste com o caráter comercial do empreendimento do Google, ambos os governos enfatizaram os valores mais elevados representados por suas literaturas nacionais. Os franceses abrem seu memorando invocando Pascal, Descartes, Molière, Racine e outros autores, até chegarem a Camus e Sartre, enquanto os alemães evocam a linhagem que vai de Goethe e Schiller até Heinrich Böll e Günter Grass. Os dois países citam o escore de seus ganhadores do prêmio Nobel de literatura (dezesseis para a França, doze para a Alemanha) e ambos sustentam seu caso com outras indicações de princípios elevados. Os alemães relembraram Gutenberg e sua contribuição à “difusão da ciência e da cultura”. Os franceses citaram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, para defender o princípio do “livre acesso à informação” ameaçado pelo “monopólio de facto” do Google.
É um espetáculo curioso: governos estrangeiros defendendo uma noção europeia de cultura contra as investidas capitalistas de uma empresa americana e apresentando seu caso perante o juiz Denny Chin, do Tribunal Distrital do Distrito Sul de Nova York. É difícil imaginar o que o juiz Chin, que cresceu na Hell’s Kitchen numa família pobre de imigrantes chineses (e ganhou bolsa para a Universidade de Princeton), achou de tudo isso. Não revelou suas intenções em 13 de novembro, nem marcou uma audiência.
Recorrendo aos trunfos culturais, os franceses enfatizaram o caráter único do livro, “um produto diferente dos outros”, e seu poder de capturar a criatividade, enriquecer a civilização e promover a diversidade, que, segundo eles, seria prejudicado pelo compromisso do Google com a comercialização. Os alemães falaram em nome da “terra dos poetas e pensadores”, mas enfatizaram sobretudo o direito à privacidade, que segundo eles poderia ser ameaçada se o Google armazenasse dados sobre quem lê o quê. Ambos os governos listam em seguida uma série de argumentos complementares, quase os mesmos, palavra por palavra — e isso não é surpresa alguma, já que os dois países contrataram a mesma assessoria jurídica:
1. O acordo concede ao Google um possível monopólio sobre as obras órfãs, mesmo que a empresa não tenha direitos sobre seus copyrights.
2. A cláusula de exclusão voluntária, segundo a qual os autores aceitam tacitamente o acordo a não ser que notifiquem o Google do contrário, viola os direitos inerentes à condição de autor.
3. O acordo contém uma cláusula de favorecimento — isto é, um dispositivo que impede possíveis concorrentes de obterem termos melhores que os conquistados pelo Google em quaisquer novos usos comerciais de livros digitalizados. Os termos desses empreendimentos futuros serão determinados pelo Book Rights Registry, composto exclusivamente por representantes dos autores e editores. Esse registro cuidará dos copyrights e cooperará com o Google no estabelecimento de preços.
4. O acordo concede ao Google o poder de censurar seu banco de dados, excluindo até 15% das obras digitalizadas.
5. Suas diretrizes de preços promoverão os interesses comerciais do Google, e não o bem público, mediante o uso de algoritmos criados pelo Google conforme os métodos secretos do Google.
6. O acordo favorece o sigilo generalizado, ocultando procedimentos de auditoria, impedindo o comparecimento do público às reuniões onde o Google e o Book Rights Registry discutirão assuntos relativos a bibliotecas e até mesmo exigindo que o Google, autores e editores destruam todos os documentos relevantes ao consenso sobre o acordo.
Acima de tudo, franceses e alemães condenam o acordo por sancionar a “concentração de poder autocrática e descontrolada nas mãos de uma única entidade corporativa”, o que ameaça o “livre intercâmbio de ideias através da literatura”. Para reforçar seu argumento, assinalam que o Google obtém mais receita que muitos países — em 2008, foram 22 bilhões de dólares.
Em 7 de setembro, os mesmos argumentos foram apresentados numa audiência perante a Comissão Europeia pelas três mais importantes associações internacionais de bibliotecas: a International Federation of Library Associations (IFLA), a European Bureau of Library, Information and Documentation Associations (EBLIDA) e a Ligue des Bibliothèques Européennes de Recherche (LIBER). Em depoimentos quase idênticos, as três enfatizaram o risco de permitir que “uma proporção considerável do patrimônio mundial de livros em formato digital fique sob controle de uma única entidade corporativa”.
O imenso poder do Google deu o que pensar. As entidades imaginaram a perspectiva de uma biblioteca digital com 30 milhões de livros, que custaria 750 milhões de dólares, e concluíram que o Google ficaria bem próximo de conquistar a hegemonia no mundo dos livros. Assim, as associações fizeram um apelo à Comissão Europeia para que defendesse os interesses do público ao impedir que o Google abusasse de seu poder.
Algumas dessas associações enviaram declarações similares ao tribunal nova-iorquino, assim como centenas de outros grupos e indivíduos. Após a leitura desses documentos, percebemos uma sensação de alarme ganhando força e emergindo até a superfície da consciência coletiva. À medida que o dia 9 de novembro se aproximava, prometia ser realmente um dia fatídico, quando começaríamos a ver com mais clareza nosso futuro digital e encarar as forças que poderiam determiná-lo.
E onde estava o Departamento de Justiça no debate ocorrido nos meses anteriores a novembro? Ele também entregou um memorando para a apreciação do tribunal. Após meses investigando possíveis violações da legislação antitruste, o órgão apontou dois sérios problemas: a possibilidade de acordos horizontais entre autores e editores para restringir a concorrência de preços e a restrição mais ampla à concorrência representada pelos direitos exclusivos obtidos de facto pelo Google sobre a distribuição digital de obras órfãs. Os concorrentes teriam seu acesso a milhões de órfãs negado, segundo o memorando, por não contarem com a imunidade que o acordo reserva ao Google no caso de ações judiciais. Além disso, a cláusula de favorecimento impediria todos os concorrentes de obterem termos mais vantajosos que os obtidos pelo Google, mesmo se conseguissem reunir um banco de dados atraente. Em vez de discorrer longamente, à moda europeia, sobre os riscos para o patrimônio literário mundial, o Departamento de Justiça fez um alerta sobre algo concreto: “o risco de estrangulamento do mercado”.
E o que fazer? Longe de parecer hostil ao Google Book Search, o Departamento de Justiça reconheceu seu potencial de promoção do bem público e anunciou: “Os Estados Unidos não desejam que a oportunidade ou o ímpeto se percam”. Assim, o memorando pode ser lido como prescrição de um modo de salvar o acordo. Concentrou-se nas cláusulas mais debatidas — relativas aos aproximadamente 7 milhões de livros fora de catálogo mas ainda sob copyright, especialmente as obras órfãs — e sugeriu as seguintes mudanças:
1. Requerer que os detentores de direitos de livros fora de catálogo participem do acordo manifestando voluntariamente sua adesão, em vez de supor que eles concordam em participar se não optarem pelo contrário. Essa inversão removeria das mãos do Google o controle dos livros cujos detentores dos direitos não puderem ser identificados ou não se manifestarem.
2. Não distribuir os lucros da venda dos livros órfãos entre as partes envolvidas no acordo (Google, autores e editores), mas usar o dinheiro para financiar uma busca minuciosa pelos detentores desconhecidos e estender a investigação por um longo período de tempo.
3. Indicar responsáveis pelos interesses dos detentores de direitos das obras órfãs junto ao registro.
4. Encontrar algum mecanismo através do qual possíveis concorrentes do Google possam obter acesso a obras órfãs sem ficarem expostos a processos por violação de copyright. Presume-se que isso precisaria ser legislado pelo Congresso.
5. Impedir que o Google utilize obras fora de catálogo em novos produtos comerciais sem a permissão dos detentores dos direitos.
O Departamento de Justiça afirmou que continuaria investigando possíveis violações da legislação antitruste, e concluiu com um imperativo inequívoco: “Este tribunal deveria rejeitar o acordo proposto em sua forma atual [...]”. Mas suas recomendações para a melhoria do acordo não vão muito longe — nem chegam perto do que foi sugerido pelos governos da França e da Alemanha, entre muitos outros críticos. O órgão não fez comentários sobre a necessidade de monitorar preços, proteger a privacidade, prevenir a censura, oferecer representatividade para o público junto ao registro e exigir que os dados secretos do Google sejam revelados na íntegra. Ele pode ter encorajado o juiz Chin a ter uma visão mais ampla do acordo, mas não chegou a escancarar a porta.
O acordo revisto, ou GBS 2.0, divulgado em 13 de novembro, deixa transparecer que o Google e os reclamantes se inspiraram no memorando do Departamento de Justiça. Em uma nítida concessão às críticas deste, o GBS 2.0 determina que o Book Rights Registry incluirá um responsável indicado pelo tribunal para representar os detentores de direitos sobre livros órfãos. Mas não prevê a adesão voluntária como novo padrão — ou seja, o GBS 2.0 supõe que qualquer detentor de direitos sobre um livro fora de catálogo aceita os termos do acordo a menos que manifeste intenção contrária. Como milhões de livros, em sua maioria obras órfãs, se encaixam nesta categoria em que os detentores dos direitos são difíceis de identificar, somente o Google teria imunidade no caso de ações legais movidas por quaisquer detentores que possam se manifestar — e o risco de litígio, que pode facilmente chegar a 150 mil dólares por título, bastaria para impedir qualquer concorrente de entrar no mercado. Em vez de fornecer uma solução para o problema das obras órfãs, o GBS 2.0 deixa o Google no comando de sua comercialização, a menos que o Congresso legisle em sentido o contrário.
Quanto à receita das vendas de livros órfãos, o GBS 2.0 acata a orientação do Departamento de Justiça. Em vez de ir para o Google e os reclamantes, o dinheiro será investido em iniciativas para procurar os detentores de direitos não identificados; e, após serem retidos por dez anos, os fundos serão distribuídos para instituições de caridade escolhidas pela Justiça.
O GBS 2.0 também aceita a recomendação do órgão ao abandonar a cláusula de favorecimento. Os concorrentes estariam livres para licenciar obras fora de catálogo em empreendimentos de varejo — isto é, vender obras individuais a consumidores —, ainda que o Google mantenha controle exclusivo sobre as assinaturas institucionais ao seu gigantesco banco de dados.
Ainda não está claro como o preço dessas assinaturas seria determinado. O GBS 2.0 tem alguns trechos explicando o funcionamento de seu algoritmo de preços, mas não prevê nenhum mecanismo eficaz para prevenir aumentos excessivos, nenhuma cláusula acenando para um compromisso de cessação de práticas anticompetitivas que permita o monitoramento de preços por uma autoridade pública e nenhuma forma de proteger o público de preços abusivos se o Google for adquirido no futuro por especuladores predatórios.
Assim sendo, em essência o GBS 2.0 não difere do GBS 1.0. O acordo praticamente ignora as objeções dos governos estrangeiros, exceto num ponto crucial: atende em parte a seus protestos ao limitar o escopo do GBS a livros publicados nos Estados Unidos e países com sistemas legais semelhantes — isto é, Reino Unido, Canadá e Austrália. O Google não disponibilizará livros publicados em países como França e Alemanha, e lhes concederá representação junto ao registro para que seus interesses sejam protegidos. Ainda é preciso esclarecer a proporção de obras órfãs que serão excluídas do acordo por essa concessão.
Seriam essas concessões suficientes para aplacar os críticos do Google que não pertencem ao Departamento de Justiça nem às partes envolvidas no acordo? Provavelmente não, a julgar por uma declaração publicada em 13 de novembro pela Open Book Alliance, cujos membros incluem Microsoft, Amazon e Yahoo:
“Ao realizar modificações cosméticas, a AAP [Association of American Publishers] e a AG [Authors Guild] tentam distrair as pessoas de seus esforços contínuos para estabelecer um monopólio sobre acesso e distribuição de conteúdo digital; usurpar o papel do Congresso em determinar políticas de direitos autorais; prender autores em seu indesejado registro, anulando direitos estabelecidos em contratos individuais; colocar em risco os orçamentos das bibliotecas e a privacidade dos usuários; e estabelecer um precedente arriscado ao fazer uso indevido do processo de ações coletivas.”
Qual, então, é a perspectiva para o futuro? Não se pode prever o que acontecerá com o acordo em sua viagem pelos tribunais; mas, se levarmos em consideração o bem público, podemos imaginar duas soluções gerais — uma máxima, outra mínima — para os problemas levantados pelo GBS.
A solução mais ambiciosa transformaria o banco de dados digital do Google numa biblioteca verdadeiramente pública. Isso, é claro, exigiria a intervenção do Congresso, uma ação que causaria uma ruptura definitiva no hábito americano de decidir questões públicas mediante ações judiciais privadas. A legislação precisaria resolver problemas subsidiários — como ajustar o copyright, lidar com as obras órfãs e compensar o Google por seus investimentos em digitalização —, mas teria a vantagem de esclarecer um panorama legal confuso e conceder ao povo americano aquilo que ele merece: uma biblioteca digital nacional digna das necessidades do século XXI. Mas não está claro como o Google reagiria a esse tipo de operação.
Se a intervenção estatal for considerada excessivamente contrária ao temperamento americano, uma solução mínima poderia ser desenvolvida para o setor privado. O Congresso precisaria intervir com legislação para proteger de litígios a digitalização de obras órfãs, mas não precisaria apropriar fundos. Em vez disso, o financiamento poderia vir de uma coalizão de fundações. Digitalização, preservação e distribuição mediante acesso livre poderiam ser realizadas por uma organização sem fins lucrativos como o Internet Archive, um grupo criado como biblioteca digital de textos, imagens e arquivos de páginas da web. Para evitar conflitos de interesse com o mercado comercial vigente, o banco de dados incluiria somente livros em domínio público e obras órfãs. O recorte de tempo aumentaria à medida que os copyrights expirassem, e poderia incluir uma cláusula de inclusão voluntária para detentores de direitos de livros fora de catálogo mas ainda sob copyright.
Não é preciso ter pressa. Num ritmo de 1 milhão de livros por ano, dentro de uma década teríamos uma biblioteca imensa, gratuita e acessível a qualquer pessoa. E o trabalho precisaria ser realizado corretamente, sem nenhuma das páginas faltantes, imagens danificadas, edições defeituosas, ilustrações excluídas, censuras e catalogações equivocadas que mancham a iniciativa do Google. Bibliógrafos — que parecem ter um papel mínimo ou inexistente na digitalização do Google — dirigiriam as operações, em conjunto com os especialistas em computação. Bibliotecários colaborariam com ambos de modo a garantir a conservação dos livros, outro ponto fraco do GBS, pois o Google não se compromete a preservar seu corpus, e textos digitalizados facilmente se degradam ou se tornam inacessíveis.
Esse processo de digitalização poderia receber subsídios como parte do estímulo econômico do governo Obama a um custo total razoável, talvez 750 milhões de dólares, diluídos entre dez e vinte anos. A biblioteca digital nacional poderia ser composta exclusivamente pelo acervo da Biblioteca do Congresso ou, se não for possível, pelos acervos das bibliotecas de pesquisa que ainda não abriram todas as suas coleções ao Google.
Outras soluções talvez possam ser desenvolvidas. Se a audiência no tribunal não resolveu o problema do Google Book Search em 13 de novembro, pelo menos teve o potencial de concentrar mentes e estimular o debate público. Já concordamos que algo precisa ser feito para melhorar a saúde do país. Por que não fazer algo para enriquecer sua cultura?

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'Eletrônicos duram 10 anos; livros, 5 séculos'

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,eletronicos-duram-10-anos-livros-5-seculos-diz-umberto-eco,523700,0.htm

'Eletrônicos duram 10 anos; livros, 5 séculos', diz Umberto Eco
Ensaísta e escritor italiano fala em entrevista exclusiva de seu novo trabalho, 'Não Contem com o Fim do Livro'
13 de março de 2010 | 9h 33
Ubiratan Brasil, enviado especial

O bom humor parece ser a principal característica do semiólogo, ensaísta e escritor italiano Umberto Eco. Se não, é a mais evidente. Ao pasmado visitante, boquiaberto diante de sua coleção de 30 mil volumes guardados em seu escritório/residência em Milão, ele tem duas respostas prontas quando é indagado se leu toda aquela vastidão de papel. "Não. Esses livros são apenas os que devo ler na semana que vem. Os que já li estão na universidade" - é a sua preferida. "Não li nenhum", começa a segunda. "Se não, por que os guardaria?"

Andrea Barbiroli/AE


Umberto Eco assina novo trabalho em parceria com o roteirista francês Jean-Claude Carrière

Veja também:
Veja fotos e ouça trecho da entrevista concedida por Umberto Eco
Na verdade, a coleção é maior, beira os 50 mil volumes, pois os demais estão em outra casa, no interior da Itália. E é justamente tal paixão pela obra em papel que convenceu Eco a aceitar o convite de um colega francês, Jean-Phillippe de Tonac, para, ao lado de outro incorrigível bibliófilo, o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, discutir a perenidade do livro tradicional. Foram esses encontros ("muito informais, à beira da piscina e regados com bons uísques", informa Umberto Eco) que resultaram em Não Contem Com o Fim do Livro, que a editora Record lança na segunda quinzena de abril.
A conclusão é óbvia: tal qual a roda, o livro é uma invenção consolidada, a ponto de as revoluções tecnológicas, anunciadas ou temidas, não terem como detê-lo. Qualquer dúvida é sanada ao se visitar o recanto milanês de Eco, como fez o Estado na última quarta-feira. Localizado diante do Castelo Sforzesco, o apartamento - naquele dia soprado por temperaturas baixíssimas, a neve pesada insistindo em embranquecer a formidável paisagem que se avista de sua sacada - encontra-se em um andar onde antes fora um pequeno hotel. "Se eram pouco funcionais para os hóspedes, os longos corredores são ótimos para mim pois estendo aí minhas estantes", comenta o escritor, com indisfarçável prazer, ao apontar uma linha reta de prateleiras repletas que não parecem ter fim. Os antigos quartos? Transformaram-se em escritórios, dormitórios, sala de jantar, etc. O mais desejado, no entanto, é fechado a chave, climatizado e com uma janela que veda a luz solar: lá estão as raridades, obras produzidas há séculos, verdadeiros tesouros. Isso mesmo: tesouros de papel.
Conhecido tanto pela obra acadêmica (é professor aposentado de semiótica, mas ainda permanece na ativa na Faculdade de Bolonha) como pelos romances (O Nome da Rosa, publicado em 1980, tornou-se um best-seller mundial), Eco é um colecionador nato; além de livros, gosta também de selos, cartões-postais, rolhas de champanhe. Na sala de seu apartamento, estantes de vidro expõem tantos os livros raros - que, no momento, lideram sua preferência - como conchas, pedras, pedaços de madeira. As paredes expõem quadros que Eco arrematou nas visitas que fez a vários países ou que simplesmente ganhou de amigos - caso de Mário Schenberg (1914-1990), físico, político e crítico de arte brasileiro, de quem o escritor guarda as melhores recordações.
Aos 78 anos, Eco - que tem relançado no País Arte e Beleza na Estética Medieval (Record, 368 págs., R$ 47,90, tradução de Mario Sabino) - exibe uma impressionante vitalidade. Diverte-se com todo tipo de cinema (ao lado de seu aparelho de DVD repousa uma cópia da animação Ratatouille), mantém contato com seus alunos em Bolonha, escreve artigos para jornais e revistas e aceita convites para organizar exposições, como a que o transformou, no ano passado, em curador, no Museu do Louvre, em Paris. Lá, o autor teve o privilégio de passear sozinho pelos corredores do antigo palácio real francês nos dias em que o museu está fechado. E, como um moleque levado, aproveitou para alisar o bumbum da Vênus de Milo. Foi com esse mesmo espírito bem-humorado que Eco - envergando um elegante terno azul-marinho, que uma revolta gravata da mesma cor tratava de desalinhar; o rosto sem a característica barba grisalha (raspada religiosamente a cada 20 anos e, da última vez, em 2009, também porque o resistente bigode preto o fazia parecer Gengis Khan nas fotos) - conversou com a reportagem do Sabático.
O livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias?
O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? Conversei recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que me disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança.
Qual a diferença entre o conteúdo disponível na internet e o de uma enorme biblioteca?
A diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar - muito embora Jorge Luis Borges, em seu livro Ficções, tenha criado um personagem, Funes, cuja capacidade de memória era infinita. Já a internet é como esse personagem do escritor argentino, incapaz de selecionar o que interessa - é possível encontrar lá tanto a Bíblia como Mein Kampf, de Hitler. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites confiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a 2.ª Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos.
Não é possível prever o futuro da internet?
Não para mim. Quando comecei a usá-la, nos anos 1980, eu era obrigado a colocar disquetes, rodar programas. Hoje, basta apertar um botão. Eu não imaginava isso naquela época. Talvez, no futuro, o homem não precise escrever no computador, apenas falar e seu comando de voz será reconhecido. Ou seja, trocará o teclado pela voz. Mas realmente não sei.
Como a crescente velocidade de processar dados de um computador poderá influenciar a forma como absorvemos informação?
O cérebro humano é adaptável às necessidades. Eu me sinto bem em um carro em alta velocidade, mas meu avô ficava apavorado. Já meu neto consegue informações com mais facilidade no computador do que eu. Não podemos prever até que ponto nosso cérebro terá capacidade para entender e absorver novas informações. Até porque uma evolução física também é necessária. Atualmente, poucos conseguem viajar longas distâncias - de Paris a Nova York, por exemplo - sem sentir o desconforto do jet lag. Mas quem sabe meu neto não poderá fazer esse trajeto no futuro em meia hora e se sentir bem?
É possível existir contracultura na internet?
Sim, com certeza, e ela pode se manifestar tanto de forma revolucionária como conservadora. Veja o que acontece na China, onde a internet é um meio pelo qual é possível se manifestar e reagir contra a censura política. Enquanto aqui as pessoas gastam horas batendo papo, na China é a única forma de se manter contato com o restante do mundo.
Em um determinado trecho de 'Não Contem Com o Fim do Livro', o senhor e Jean-Claude Carrière discutem a função e preservação da memória - que, como se fosse um músculo, precisa ser exercitada para não atrofiar.
De fato, é importantíssimo esse tipo de exercício, pois estamos perdendo a memória histórica. Minha geração sabia tudo sobre o passado. Eu posso detalhar sobre o que se passava na Itália 20 anos antes do meu nascimento. Se você perguntar hoje para um aluno, ele certamente não saberá nada sobre como era o país duas décadas antes de seu nascimento, pois basta dar um clique no computador para obter essa informação. Lembro que, na escola, eu era obrigado a decorar dez versos por dia. Naquele tempo, eu achava uma inutilidade, mas hoje reconheço sua importância. A cultura alfabética cedeu espaço para as fontes visuais, para os computadores que exigem leitura em alta velocidade. Assim, ao mesmo tempo que aprimora uma habilidade, a evolução põe em risco outra, como a memória. Lembro-me de uma maravilhosa história de ficção científica escrita por Isaac Asimov, nos anos 1950. É sobre uma civilização do futuro em que as máquinas fazem tudo, inclusive as mais simples contas de multiplicar. De repente, o mundo entra em guerra, acontece um tremendo blecaute e nenhuma máquina funciona mais. Instala-se o caos até que se descobre um homem do Tennessee que ainda sabe fazer contas de cabeça. Mas, em vez de representar uma salvação, ele se torna uma arma poderosa e é disputado por todos os governos - até ser capturado pelo Pentágono por causa do perigo que representa (risos). Não é maravilhoso?
No livro, o senhor e Carrière comentam sobre como a falta de leitura de alguns líderes influenciou suas errôneas decisões.
Sim, escrevi muito sobre informação cultural, algo que vem marcando a atual cultura americana que parece questionar a validade de se conhecer o passado. Veja um exemplo: se você ler a história sobre as guerras da Rússia contra o Afeganistão no século 19, vai descobrir que já era difícil combater uma civilização que conhece todos os segredos de se esconder nas montanhas. Bem, o presidente George Bush, o pai, provavelmente não leu nenhuma obra dessa natureza antes de iniciar a guerra nos anos 1990. Da mesma forma que Hitler devia desconhecer os relatos de Napoleão sobre a impossibilidade de se viajar para Moscou por terra, vindo da Europa Ocidental, antes da chegada do inverno. Por outro lado, o também presidente americano Roosevelt, durante a 2.ª Guerra, encomendou um detalhado estudo sobre o comportamento dos japoneses para Ruth Benedict, que escreveu um brilhante livro de antropologia cultural, O Crisântemo e a Espada. De uma certa forma, esse livro ajudou os americanos a evitar erros imperdoáveis de conduta com os japoneses, antes e depois da guerra. Conhecer o passado é importante para traçar o futuro.
Diversos historiadores apontam os ataques terroristas contra os americanos em 11 de setembro de 2001 como definidores de um novo curso para a humanidade. O senhor pensa da mesma forma?
Foi algo realmente modificador. Na primeira guerra americana contra o Iraque, sob o governo de Bush pai, havia um confronto direto: a imprensa estava lá e presenciava os combates, as perdas humanas, as conquistas de território. Depois, em setembro de 2001, se percebeu que a guerra perdera a essência de confronto humano direto - o inimigo transformara-se no terrorismo, que podia se personificar em uma nação ou mesmo nos vizinhos do apartamento ao lado. Deixou de ser uma guerra travada por soldados e passou para as mãos dos agentes secretos. Ao mesmo tempo, a guerra globalizou-se; todos podem acompanhá-la pela televisão, pela internet. Há discussões generalizadas sobre o assunto.
Falando agora sobre sua biblioteca, é verdade que ela conta com 50 mil volumes?
Sim, de uma forma geral. Nesse apartamento em Milão, estão apenas 30 mil - o restante está no interior da Itália, onde tenho outra casa. Mas sempre me desfaço de algumas centenas, pois, como disse antes, é preciso fazer uma filtragem.
Por que o senhor impediu sua secretária de catalogá-los?
Porque a forma como você organiza seus livros depende da sua necessidade atual. Tenho um amigo que mantém os seus em ordem alfabética de autores, o que é absolutamente estúpido, pois a obra de um historiador francês vai estar em uma estante e a de outro em um lugar diferente. Eu tenho aqui literatura contemporânea separada por ordem alfabética de países. Já a não contemporânea está dividida por séculos e pelo tipo de arte. Mas, às vezes, um determinado livro pode tanto ser considerado por mim como filosófico ou de estética da arte; depende do motivo da minha pesquisa. Assim, reorganizo minha biblioteca segundo meus critérios e somente eu, e não uma secretária, pode fazer isso. Claro que, com um acervo desse tamanho, não é fácil saber onde está cada livro. Meu método facilita, eu tenho boa memória, mas, se algum idiota da família retira alguma obra de um lugar e a coloca em outro, esse livro está perdido para sempre. É melhor comprar outro exemplar (risos).
Um estudioso que também é seu amigo, Marshall Blonsky, escreveu certa vez que existe de um lado Umberto, o famoso romancista, e de outro Eco, professor de semiótica.
E ambos sou eu (risos). Quando escrevo romances, procuro não pensar em minhas pesquisas acadêmicas - por isso, tiro férias. Mesmo assim, leitores e críticos traçam diversas conexões, o que não discuto. Lembro de que, quando escrevia O Pêndulo de Foucault, fiz diversas pesquisas sobre ciência oculta até que, em um determinado momento, elas atingiram tal envergadura que temi uma teorização exagerada no romance. Então, transformei todo o material em um curso sobre ciência oculta, o que foi muito bem-feito.
Por falar em 'O Pêndulo de Foucault', comenta-se que o senhor antecipou em muito tempo O Código de Da Vinci, de Dan Brown.
Quem leu meu livro sabe que é verdade. Mas, enquanto são os meus personagens que levam a sério esse ocultismo barato, Dan Brown é quem leva isso a sério e tenta convencer os leitores de que realmente é um assunto a ser considerado. Ou seja, fez uma bela maquiagem. Fomos apresentados neste ano em uma première do Teatro Scala e ele assim se apresentou: "O senhor não me admira, mas eu gosto de seus livros." Respondi: Não é que eu não goste de você - afinal, eu criei você (risos).
Em seu mais conhecido romance, O Nome da Rosa, há um momento em que se discute se Jesus chegou a sorrir. É possível pensar em senso de humor quando se trata de Deus?
De acordo com Baudelaire, é o Diabo quem tem mais senso de humor (risos). E, se Deus realmente é bem-humorado, é possível entender por que certos homens poderosos agem de determinada maneira. E se ainda a vida é como uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, como Shakespeare apregoa em Macbeth, é preciso ainda mais senso de humor para entender a trajetória da humanidade.
Como foi a exposição no Museu do Louvre, em Paris, da qual o senhor foi curador, no ano passado?
Há quatro anos, o museu reserva um mês para um convidado (Toni Morrison foi escolhida certa vez) organizar o que bem entender. Então, me convidaram e eu respondi que queria fazer algo sobre listas. "Por quê?", perguntaram. Ora, sempre usei muitas listas em meus romances - até pensei em escrever um ensaio sobre esse hábito. Bem, quando se fala em listas na cultura, normalmente se pensa em literatura. Mas, como se trata de um museu, decidi elaborar uma lista visual e musical, essa sugerida pela direção do Louvre. Assim, tive o privilégio (que não foi oferecido a Dan Brown) de visitar o museu vazio, às terças-feiras, quando está fechado. E pude tocar a bunda da Vênus de Milo (risos) e admirar a Mona Lisa a apenas 20 centímetros de distância.
O senhor esteve duas vezes no Brasil, em 1966 e 1979. Que recordações guarda dessas visitas?
Muitas. A primeira, em São Paulo, onde dei algumas aulas na Faculdade de Arquitetura (da USP), que originaram o livro A Estrutura Ausente. Já na segunda fui acompanhado da família e viajamos de Manaus a Curitiba. Foi maravilhoso. Lembro-me de meu editor na época pedindo para eu ficar para o carnaval e assistir ao desfile das escolas de samba de camarote, o que não pude atender. E também me recordo de imagens fortes, como a da moça que cai em transe em um terreiro (para o qual fui levado por Mario Schenberg) e que reproduzo em O Pêndulo de Foucault.

o futuro da leitura e das bibliotecas na era do livro digital

Casa\ da Leitura . Biblioteca Nacional
Proponente: Cristiane Henriques Costa


EMENTA

O livro impresso vai acabar? Como será a biblioteca do futuro? História das tecnologias do livro: pedra, rolo de pergaminho, codex manuscrito, tipos móveis de Gutenberg, e-readers. História das formas de armazenamento de conhecimento: das primeiras bibliotecas ao Google. As estratégias de incentivo à leitura e preservação da cultura e memória oferecidas pelas novas tecnologias. Narrativas em base digital, passividade e interatividade: as fan fictions (obras de ficção escritas por jovens usando seus personagens de livros, filmes e TV favoritos) e seu potencial educativo na formação de leitores. Os games. Os trabalhos colaborativos, em que vários autores escrevem um mesmo texto. As mídias sociais como forma de integração de uma comunidade de leitores.

JUSTIFICATIVA
O sonho de uma biblioteca que abarque todos os livros já escritos não parece mais tão utópico na era do Google Books. Em vez de lamentar e especular sobre o fim do livro impresso, devemos nos preparar para viver a realidade do e-reader. Qual será o papel das bibliotecas neste universo? Livros e leitores eletrônicos vão viver juntos? Por quanto tempo?
É preciso preparar nossos professores, mediadores de leitura e bibliotecários para o futuro. Mesmo os que trabalham em áreas carentes, em que a exclusão digital é uma realidade econômica, percebem que os jovens buscam cada vez mais formas de burlar a falta de um computador pessoal e do acesso à internet, apelando para lan-houses, por exemplo. Celulares e computadores têm se popularizado nas classes mais baixas em direta proporção à queda de seu preço e aumento do número de prestações oferecidos pelo mercado de eletro-eletrônicos.
Políticas públicas também estão sendo implementadas neste sentido. Inspirada nas bibliotecas multimídia de Medelin e Bogotá, a comunidade de 16 favelas de Manguinhos está se preparando para ganhar uma biblioteca multimídia. Serão 25 mil livros, 650 filmes e 3 milhões de músicas numa área multifuncional, com 40 computadores, de 2,3 mil m2. O Alemão e a Rocinha ganharão outras, idênticas. Tudo isso prova que, hoje, o computador não é mais um luxo, mas uma necessidade e parte do direito do cidadão à informação e educação.
Em vez de apontá-lo como um assassino do livro impresso, podemos vê-lo como um aliado para engajar novos leitores. Para isso, precisamos ouvir os jovens, captar sua relação com a literatura e os livros digitais. Perceber oportunidades de tornar a relação com o mundo letrado algo ainda mais prazeroso e estimulante. Temos que nos antenar com as novidades tecnológicas e conhecer o que elas podem nos trazer de oportunidades, sob o risco de não ficarmos defasados num futuro muito próximo.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA
O curso parte do trabalho de historiadores do livro, das técnicas de leitura e das bibliotecas, como Robert Darton, Umberto Eco e Roger Chartier, para traçar um panorama das mudanças por que o conceito de livro vem passando ao longo dos séculos até chegar ao momento presente, quando os três são unânimes em afirmar: vive-se uma revolução nas formas de produzir, transmitir e armazenar informação.
A revolução que torna incerto o futuro do livro e das livrarias, questiona a noção de autoria, abala as bases da indústria editorial, e promete mudar completamente a forma com que o leitor se relaciona com os livros já é chamada pelos especialistas de “A Quarta Tela”. Quais as três primeiras? A tela da televisão, a do computador pessoal e a do telefone celular. A quarta tela com que vamos nos acostumar a interagir diariamente será a do tablet. O iPad, criado pela Apple com base na bem-sucedida tecnologia do iPod, é a estrela desta nova geração de computadores, mas nem de longe a única. Calcula-se que ele dividirá o mercado com pelo menos 50 modelos nos próximos meses.
Nascidos digitais, os novos livros podem prescindir da leitura linear, integrar-se à internet, misturar palavra, vídeo, foto, som e animação, e literalmente explodir em 3D nas telas com cenários em realidade aumentada.
Neste novo universo literário, real e virtual não são mais mundos separados. Objetos tridimensionais saltarão das páginas para interagir com movimentos do leitor e cenários reais. A tecnologia que promete quebrar estas barreiras mostra que tanto a realidade pode ser aumentada quanto a virtualidade diminuída. No futuro, tudo será uma questão de gradação, assim como abaixar e aumentar o som da televisão. Cientistas da computação prevêem que se a web 1.0 foi dirigida para a comunicação, e a 2.0 pela interatividade, a realidade aumentada e o 3D darão a tônica da internet 3.0.
Os novos livros poderão ainda ser reescritos por seus leitores, em experiências interativas e colaborativas que colocam em questão o conceito de autoria e propriedade intelectual. Romances epistolares passarão a ser e-pistolares. Símbolos do SMS podem substituir os travessões. Até mesmo coordenadas geodésicas, como as marcações do Google Maps, podem oferecer estruturas narrativas jamais usadas antes. Games, blogs e chatbots (programas de computador desenhados para similar uma conversação normal entre personagens e leitores) abrem espaço para um nível de interatividade inédito com o leitor.
Ainda é cedo para medir o impacto na criação literária dessa literatura sem papel. O livro eletrônico poderia desenvolver novas formas expressivas, assim como o livro impresso possibilitou o boom do romance e a câmera do cinema? Boa parte das obras produzidas em novos formatos ainda é experimental e não têm mais de 10 anos. Sua produção pode ser conferida em sites como o do ELO (Eletronic Literature Organization) e o portal dedicado à ciberliteratura da Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. No entanto, as editoras comerciais já começam a fazer suas próprias experiências, como a Simon & Schulster, que criou o vook (vídeo + book). Outras, como a Penguin e a Macmillan já colocaram na rede vídeos demonstrando como seus livros serão reinventados, ganhando recursos interativos, áudio, vídeo, mapas, espaço para anotações e comentários, mecanismos de busca e comunidades virtuais de leitores para trocar ideias.
Apesar de toda a excitação provocada pelos tablets, não faltam leitores que não pretendem abandonar o papel por nada. Seus argumentos são pertinentes. Ler num computador não é tão confortável como ler uma obra impressa (por outro lado, uma biblioteca inteira cabe num e-reader, que pesa muito menos do que um livro normal). É difícil ler um livro na tela porque os olhos se cansam da luminosidade (aparentemente não os das novas gerações, habituadas desde cedo às telas do computador). As baterias acabam, enquanto os livros são eternos (em compensação os livros impressos não podem ser baixados para o seu e-book justamente quando se está horas esperando na ante-sala do médico). Mas alguém tem dúvida de que muitos destes problemas serão sanados com o tempo? A questão hoje não é “Se”, mas “Quando”.
Diretor da Biblioteca de Harvard, o historiador americano Robert Darton faz questão de mostrar que o livro impresso também foi uma tecnologia de leitura, que já desbancou outras, no passado: os rolos de pergaminho e os livros manuscritos, mesmo que sob severos protestos de seus defensores. Nesta área, as mudanças têm sido cada vez mais rápidas. “Da descoberta da escrita até o codex (que é o formato atual do livro), passaram-se 4.300 anos; do codex ao tipo móvel, 1.150 anos; do tipo móvel para a internet, 524 anos; da Internet para os mecanismos de busca, 17 anos; deles para o Google, 7 anos; e quem sabe o que estará ali na esquina ou vindo na próxima onda?”, questiona Darton.
Mais do que o prazer da leitura, a questão diz respeito a um mercado mundial que movimenta bilhões de dólares, produzindo mais de 1 milhão de exemplares novos por ano. Se boa parte for substituída por livros eletrônicos, qual será o impacto para a indústria do livro? Ela pode simplesmente mudar de mãos ou diminuir até 70% de seu tamanho, como a indústria fonográfica? Os e-readers prometem revolucionar os hábitos de leitura, assim como o codex fez com os rolos de papiro. Em vez de duas páginas lado a lado, teremos uma única página, que também servirá para exibir vídeos, acessar a internet e nos comunicar com os amigos. Podemos retomar o hábito de fazer anotações nas margens, sublinhar e usar tags para catalogarmos os que nos interessam. Em vez de comprar livros, poderemos baixá-los numa livraria virtual imediatamente. E, depois de lidos, eles não irão mais ocupar as prateleiras de casa. Teremos bibliotecas gigantes ao alcance de um clique. Vamos poder também interferir nos rumos da história, colaborar, jogar games que decidirão o destino dos personagens, trocar comentários e críticas com autores e outros leitores. Criar e compartilhar nossas próprias histórias, como os autores de fan fiction. Buscar palavras-chave num grande volume de textos e assim destrinchar em poucos minutos a obra de um grande pensador sobre determinado assunto. Ou mesmo de vários pensadores ao mesmo tempo. Poupar muitas árvores de serem abatidas à toa, para a publicação de livros sem importância. Mas qual será o custo disso para o universo da leitura tal como conhecemos hoje?
Seriam os tablets “killer technologies”, capazes de deixar transformar o livro impresso em objeto de museu, ao lado dos daguerreótipos, dos gramofones e até dos primeiros Kindles? Como em todas as discussões milenaristas, podemos dividir os debatedores em duas correntes: os apocalíticos e os integrados.
“Não contem com o fim dos livros.” O título do livro que reúne conversas entre dois dos maiores intelectuais europeus, os escritores Jean-Claude Carrière e Umberto Eco, traz uma mensagem tranqüilizadora para aqueles que temem que a era tecnológica se transforme num Apocalipse que não deixará página sobre página. Ao mesmo tempo, é um exemplo de como a discussão sobre o fim do livro é inútil, porque na maior parte do tempo é baseada em achismos, profecias e experiências pessoais que não são necessariamente compartilhadas pelas novas gerações. Mesmo quando o debate é liderado por pensadores de renome.
O livro é também o lamento de dois homens brilhantes que, como muitos de seus contemporâneos, se vêem como dinossauros soterrados por uma revolução nas formas de escrever, ler e transmitir o conhecimento. “O passado nos alcança a toda velocidade. O futuro é como sempre incerto e o presente estreita-se progressivamente se dilui”, assusta-se Carrière.
Assim como qualquer pessoa comum, o roteirista francês fica surpreso quando seu amigo Umberto Eco, revela-se um velho jogador de fliperama(!) atordoado por uma “derrota acachapante” de 10 a 280 para seu neto de 7 anos num jogo eletrônico que ambos acabavam de experimentar. A derrota leva Eco a reconhecer publicamente que, por mais que tenha devorado bibliotecas, é incapaz de acompanhar a revolução que se anuncia. “Nossa insolente longevidade não deve nos mascarar o fato de que o mundo dos conhecimentos está em revolução permanente e de que não fomos capazes de captar plenamente alguma coisa senão no lapso de um tempo necessariamente limitado.”

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO

A turma será dividida em grupos de trabalho, cada qual responsável por apresentações orais de 20 minutos, refletindo sobre como o livro digital pode ser usado em sua experiência profissional. Ao longo do curso, os grupos serão incentivados a pesquisar entre seus alunos e usuários de suas bibliotecas a recepção ao livro digital, de acordo com formulário a ser elaborado em conjunto. E a estimular exercícios de fan fictions e escrita colaborativa entre eles, medindo sua mobilização em torno das novas formas narrativas. Os resultados serão descritos em trabalho escrito, posteriormente reunidos num paper descrevendo a experiência.


BIBLIOGRAFIA
CHARTIER, Roger.A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: 1997
DARTON, Robert. The case for books: past, present and future. Nova Iorque: Public Affairs, 2009
ECO, Umberto et alii . Não contem com o fim dos livros. Rio de Janeiro: Record, 2009
JENKINS, Henri. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009 (2ª edição)
MURRAY, Janet. Hamlet no Holodeck. São Paulo: UNESP, 1997

CURRÍCULO RESUMIDO

Cristiane Costa é doutora em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do
pós-doutorado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea
(Paac). Formada em jornalismo pela UFF, é professora e coordenadora
do curso de Jornalismo da Eco-UFRJ. Foi editora do Caderno Idéias
(suplemento literário do Jornal do Brasil), da revista Nossa
História e do Portal Literal (www.literal.com.br), além de editora
de não-ficção da Nova Fronteira. Coordenou a criação do curso
de Publishing Management - O negócio do livro, da FGV. Foi curadora
dos eventos Eu Vejo Novela e Laboratório do Escritor, no CCBB. É
autora de "Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil",
pesquisa premiada com a Bolsa Vitae de Literatura em 2001 e
publicada pela Companhia das Letras.

Cosacnaify

Achei um ótimo exemplo de como um projeto gráfico pode deixar o livro ainda mais interessante.

http://editora.cosacnaify.com.br/blog/?p=4044

Colaboração: Rafaela Signoretti

Índia apresenta tablet semelhante ao iPad por US$ 35



O aparelho, um híbrido de computador portátil e PDA tem tela e teclado touch, conexão Wi-Fi e foi desenvolvido por especialistas de institutos indianos de tecnologia
Por Agência EFE

Ministro do Desenvolvimento de Recursos Humanos da Índia, Kapil Sibal, posa com o tablet de US$ 35, que estará disponível para estudantes de nível superior a partir de 2011Leia Mais
Apple ganha 70% a mais graças ao iPhone e iPad
Apple vende 3 milhões de iPads desde seu lançamento nos EUA
Japonês faz mágica com iPadNova Délhi, 23 jul (EFE) - Os estudantes de educação superior da Índia irão dispor, a partir de 2011, de um computador com acesso a internet semelhante ao iPad por um custo que rondará os US$ 35.

"O governo está disposto a subsidiar 50% do custo do dispositivo, portanto o preço final será de 750 rúpias (aproximadamente US$ 16)", disse o porta-voz do Ministério de Desenvolvimento de Recursos Humanos (HRD) indiano, Mamta Varma.

O aparelho, um híbrido de computador portátil e PDA (computador de mão), conta com tela e teclado táteis, conexão Wi-Fi, uma entrada USB e uma bateria de dois watts, e é indicado para as áreas indianas que quase não contam com conexão elétrica.

Com dimensões de 5x7x9 polegadas, o dispositivo funciona com o sistema Linux e conta com um navegador de internet, um leitor de PDF, dispositivos para videoconferência, open office, reprodutor multimídia e capacidade multi-tarefa, embora não tenha um disco rígido.

"Convidamos às companhias privadas a somar-se à iniciativa. Já recebemos muitas amostras de interesse (para produzir o aparelho)", assegurou Varma, que o comparou com o computador "Ipad" da Apple.

O tablet foi desenvolvido em colaboração por vários grupos de especialistas procedentes dos institutos indianos de tecnologia de Bangalore, Kanpur, Kharagpur, Madras e Mumbai, entre outros, e do Instituto indiano de Ciências.

A princípio, os especialistas desenvolveram um computador com um custo de US$ 100, mas mais tarde conseguiram barateá-lo e, segundo o Ministério, o preço poderia descer até os US$ 10 caso as companhias decidam somar-se à produção. EFE

Colaboração: José Maria

Digital copyright. Links úteis

//www.guardian.co.uk/technology/2010/feb/25/digital-copyright-british-


http://www.guardian.co.uk/technology/2010/feb/25/digital-copyright-british-library

http://www.nytimes.com/2010/07/25/magazine/25privacy-t2.html?WT.mc_id=MG-SM-E-FB-SM-LIN-TWM-072110-NYT-NA&WT.mc_ev=click

Helpdesk. A invenção do livro



A experiência com a implantação de uma nova tecnologia, o computador, e as consequências para os usuários noviços foi inspiradora desse filme sensacional. A situação nele representada é a que, por analogia com o computador, teria acontecido quando, na Idade Média, se introduziu uma nova tecnologia chamada livro. É um filme sensacional que não se pode perder. Essa versão foi legendada em português por Lorena Tárcia, que foi minha orientanda no Mestrado em Educação da PUC Minas.

Primeira leitura da proposta de reforma da Lei de Direitos Autorais

http://tesourobibliografico.wordpress.com/2010/07/21/primeira-leitura-da-proposta-de-reforma-da-lei-de-direitos-autorais/

Lei do direito autoral

Por Pablo Ortellado
Depois de quatro anos de discussão e debate com os setores interessados, o governo finalmente publicou o projeto que reforma a lei de direito autoral (disponível em:
http://www.cultura.gov.br/consultadireitoautoral). Embora com atraso, a publicação ainda assim deve ser louvada. Abaixo, proponho uma primeira leitura dos principais pontos positivos e negativos do projeto da perspectiva do acesso ao conhecimento.
Pontos positivos:
1) “Numeração”
O projeto introduz, no seu artigo 30, a exigência de controle de cópias (seja a numeração dos exemplares ou o controle eletrônico) que permitirá que o autor monitore a quantidade de cópias produzidas. Hoje, é muito difícil para um escritor ou intérprete controlar a quantidade de discos produzidos ou livros impressos e evitar que seja enganado pelo seu editor ou gravadora. Com esse controle de cópias, a fraude se torna um pouco mais difícil.
2) Cópia privada
O texto, no inciso I do artigo 46, reintroduz na nossa lei a cópia privada (que já existia na lei de 1973). Assim, finalmente passa a ser autorizado fazer uma cópia extra, de backup ou de proteção dos bens culturais legitimamente adquiridos. No entanto, a lei mantém uma redação muito ambígua e ruim, quando fala da “a reprodução, por qualquer meio ou processo, de qualquer obra legitimamente adquirida, desde que feita em um só exemplar e pelo próprio copista, para seu uso privado e não comercial”. A exigência de que seja feita pelo próprio copista e que esteja restrita a um exemplar simplesmente não faz sentido. Uma pessoa que adquire um livro e quer tirar uma fotocópia para riscar sem danificar o original terá que ter uma copiadora em casa? Não poderá solicitar a uma copiadora para fazer a cópia? Essa ambigüidade de redação que já está no inciso II da lei em vigor já dá muita disputa interpretativa. E porque a restrição a uma única cópia para uso privado do copista? E se o dono do exemplar adquirido quiser compartilhar a cópia com a sua família? No nosso exemplo, marido e mulher que queiram cópias para não rabiscar o livro, terão que adquirir dois exemplares? Leis de outros países estendem o direito de cópia privada a familiares e outras pessoas do círculo íntimo do proprietário do exemplar e autorizam explicitamente mais de uma cópia. Se o objetivo é colocar de maneira inequívoca as práticas razoáveis na legalidade, o texto ainda pode ser melhorado.
3) Mudança de formato
No mesmo artigo 46, no inciso II, inclui-se o direito de quem adquire uma obra, de mudá-la de formato – ou seja, poderemos finalmente comprar um CD e transformá-lo em MP3 para tocar no Ipod, sem cometer um ilícito. A medida é muito boa, mas, novamente, a restrição para uso privado e não comercial é equívoca. Uma casa, na qual a família seja fã da mesma banda, poderá compartilhar cópias em MP3 produzidas a partir do mesmo original? A redação não deixa isso muito claro – e, por isso, seria melhor que ela copiasse a redação de outros países que explicitamente autoriza a cópia de mais de um exemplar e o compartilhamento no círculo íntimo do proprietário.
4) Peças, músicas e filmes na escola, em casa, nos cineclubes e nas igrejas
Os incisos VI e XV do artigo 46 autorizam a livre apresentação da peças, exibição de filmes e execução de músicas no ambiente escolar, no âmbito familiar, nos cineclubes e nas igrejas, desde que sejam gratuitas e sem finalidade de lucro. Com isso, coloca-se na legalidade um grande número de professores que utilizam filmes e músicas como material didático e as escolas que apresentam peças interpretadas pelos estudantes como exercício teatral. Passamos também a poder cantar “Parabéns para você” em festas domésticas sem o risco de sermos importunados pelo ECAD, as Igrejas podem executar livremente canções religiosas protegidas e os cineclubes podem exibir livremente seus filmes sem ameaças.
5) Reprodução para fins de preservação do patrimônio cultural
Outro dos grandes absurdos da atual lei passa a ser corrigido. O inciso XIII do artigo 46 passa a permitir que bibliotecas, museus e cinematecas façam cópias livremente para preservar o patrimônio cultural do país. Hoje, se uma cinemateca não localizar o titular do direito autoral e conseguir dele uma autorização, ela não pode, em tese, reproduzir o filme para preservá-lo – e o filme simplesmente se perderia.
6) Obras esgotadas
O inciso XVII do artigo 46 autoriza a livre cópia, sem finalidade comercial, de obras esgotadas. Esse é outro dos grandes absurdos da lei atual. Cerca de um terço de toda a base bibliográfica dos nossos cursos superiores está esgotada e as nossas bibliotecas não têm exemplares antigos para suprir a demanda. Com essa medida, nossos estudantes e professores poderão reproduzir as obras esgotadas para uso em sala de aula.
7) Uso educacional
O parágrafo único do artigo 46 passa a autorizar o livre uso de obras para fins educacionais, científicos e “criativos” desde que respeitem a chamada regra dos três passos que aparece no inciso II – ou seja, devem ser feitas “na medida justificada para o fim a se atingir, sem prejudicar a exploração normal da obra utilizada e nem causar prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores”. A medida é boa, mas a reprodução da regra dos três passos vai dar origem a interpretações conflitantes e muitas disputas no judiciário. Em tese, essa cláusula geral deveria ser uma salvaguarda para novas limitações não previstas, mas ela terá de dar conta de uma situação específica, muito bem prevista, a cópia de livros para uso educacional da universidade, sem finalidade de lucro, seja por meio da Internet, seja por meio da reprografia não comercial (nas universidades públicas). Seria muito melhor que a ambigüidade e o litígio judicial fossem evitados e tivéssemos uma limitação clara dizendo que a cópia sem finalidade comercial para uso educacional e científico é livre. Se incluíssemos um inciso específico para a educação, essa cláusula geral seria um bom complemento para incorporar usos públicos não previstos.
Paródia
O artigo 47 autoriza claramente a paródia, ampliando a liberdade de expressão para a crítica, inclusive humorística. Um grande avanço.
9) Licenciamento compulsório
O artigo 52B traz uma inovação: a licença compulsória de direitos autorais. O presidente da república passa a ter a prerrogativa de autorizar, quando requisitado, o licenciamento voluntário de obras esgotadas, de obras cujos detentores de direito criam obstáculos não razoáveis à exploração, de obras cujos detentores dos direito são desconhecidos (as chamadas “obras órfãs”) e de obras cujos detentores de direitos não autorizam a reprografia. A medida é inovadora e positiva, na medida em que permite que esses abusos sejam corrigidos por uma licença governamental. Como a licença compulsória de patentes, o efeito coibitivo de más práticas talvez seja mais eficaz que o uso efetivo do dispositivo.
10) Supervisão da gestão coletiva
Organizações de gestão coletiva (como o ECAD e as associações que o compõem) passam a ser fiscalizadas pelo poder público nos termos dos artigos 98, 98A e 98B. O governo responde assim a diversos atores do mundo da cultura, de criadores e radiodifusores a consumidores que reclamam da atuação destas associações que não divulgam seus procedimentos e processos e são muito pouco democráticas na sua gestão. O artigo 98B especificamente exige publicidade e transparência das associações de gestão coletiva.
11) Jabá
A prática do Jabá, o pagamento a um veículo de radiodifusão para executar uma música, passa a ser proibido pelo artigo 110B que o equipara a infração da ordem econômica prevista na lei 8.884 de 1994. Mais uma medida necessária para por fim a essa prática muito semelhante à corrupção que é praticada à luz do dia.
Embora o conjunto da proposta seja muito positivo, há alguns pontos que ainda estão ruins e que precisam ser modificados no processo de consulta pública:
1) Proteção de normas técnicas
O artigo 8o, inciso VIII, deixa de proteger as normas técnicas, medida excelente, mas observa que a medida se faz “ressalvada a sua proteção em legislação específica”. O que poderia significar essa ressalva? Um dos grandes absurdos que temos no atual cenário é que a ABNT reclama direitos autorais sobre normas técnicas. Se a norma técnica, como o nome diz, é um texto normativo, ela deve ser de livre difusão para que a sua normatividade seja eficaz. No entanto, a ABNT utiliza a venda das normas para se manter, o que gera situações descabidas, como a dos nossos estudantes não encontrarem na Internet as normas sobre citação ou atribuição de referências, sendo obrigados a comprá-las a preços proibitivos.
2) Prazo de proteção
O prazo de proteção do direito autoral permanece, segundo o artigo 41, nos inexplicáveis 70 anos após a morte do autor. Como o direito internacional obriga a “apenas” 50 anos após a morte do autor, não há motivo para não aproveitar a reforma e reduzir esse prazo de proteção absurdo. Recentemente, vimos o impacto positivo que a queda em domínio público de uma obra pode trazer, quando os escritos de Freud finalmente passaram a estar disponíveis em traduções concorrentes e direto do alemão. Tivemos que esperar inacreditáveis 120 anos.
3) Obra rara e não publicada no país
Uma ausência notável no texto diz respeito ao acesso às obras raras ou não publicadas no país – e que deveria estar previsto no artigo 46. O acesso a esse tipo de obra é um problema tão notável que a norma interpretativa da USP sobre reprografia autoriza a cópia nestes casos. De novo, para evitar ambigüidades, deveríamos ter uma previsão específica e inequívoca para esse tipo de obra.
4) Reprografia (Xerox)
O projeto de lei cria um capítulo específico para disciplinar a reprografia, tentando por fim ao intenso e desgastante litígio entre editores e a comunidade universitária. No entanto, a redação do artigo tem muitas incoerências e o resultado pode ser muito prejudicial aos estudantes. Embora o corpo do artigo 88A só se refira à reprografia “com finalidade comercial ou intuito de lucro” a redação do inciso II confunde as coisas ao mencionar a “reprodução mediante pagamento”. Ao final de contas, de quê trata o artigo, da reprodução comercial ou da reprodução mediante pagamento? As duas coisas são diferentes. Posso muito bem ter reprografia nas universidades, realizada mediante pagamento, mas sem “finalidade comercial ou intuito de lucro”, apenas cobrando para cobrir os custos do serviço prestado. Se a redação esclarecer essa ambigüidade, resta ainda outro grande problema. O inciso II estabelece que as copiadoras deverão “obter autorização prévia dos autores ou titulares das obras protegidas ou da associação de gestão coletiva que os representem”. Ora, nada disso é realmente necessário. Os editores já têm uma associação que, em tese, foi constituída para esta função que é a ABDR. Ela já pode, nos marcos da lei atual, arrecadar direitos autorais nas copiadoras (o que, aliás, já existiu no passado), mas ela simplesmente não quer autorizar o xerox recolhendo direitos autorais. Por que deveríamos esperar que ela passasse a querer agora? Parece evidente que a ABDR vai travar esse mecanismo – e a ameaça de licenciamento compulsório não vai ter qualquer efeito, porque este tipo de licenciamento, pelas suas próprias características, deve ser excepcional e não pode ser aplicado a um grupo muito grande de obras. Por fim, ainda que todos esses problemas fossem resolvidos, devemos pensar se realmente é necessário que os nossos estudantes paguem direitos autorais pelo Xerox. O Xerox não concorre com o mercado de livros (o Xerox é fracionado e perecível) e, portanto, não causa prejuízos comprovados a esse setor. Além disso, o adicional para o pagamento de direitos autorais deve onerar nossos estudantes, em especial os mais pobres, que já têm um orçamento muito reduzido. A estimativa para um estudante de humanidades é do pagamento de cerca de 80 reais anuais de direito autoral, o suficiente para comprar 2 ou 3 livros integrais.
Apesar destes problemas, as virtudes compensam de longe os defeitos do projeto. Precisamos, neste momento, ampliar a discussão da lei de direitos autorais e trabalhar por mudanças na consulta pública e, em seguida, para sua rápida tramitação no legislativo.

* Agradeço a Maria Carlotto, Arakin Monteiro, Denise Bottmann e Carolina Rossini pelos comentários e sugestões. Eventuais erros são exclusivamente meus.

** Pablo Ortellado é professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, coordenador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai-USP – www.gpopai.usp.br) e membro da Rede pela reforma da lei de direito autoral (www.reformadireitoautoral.org).
Fonte: Reforma de Lei de Direito Autoral.

Vídeo de Erik Qualman que mostra fatos curiosos sobre as mídias sociais.

O passado e o futuro dos livros

'O DESAFIO É TORNAR A LEITURA INTERESSANTE NOS E-BOOKS'


John Makinson, que estará na Flip, fala das apostas bem-sucedidas da editora em e-books e das possibilidades do mercado
16 de julho de 2010 | 10h 00


Previsão. "Aposto que o Brasil em breve será forte em digital", diz o CEO da Penguin americana


Uma exigência da Penguin na parceria com a Companhia das Letras foi que todos os livros da coleção Clássicos também saíssem no formato digital. Por quê?

Nos EUA, o mercado de e-readers vem crescendo rapidamente. Em pouco tempo, eles se tornaram plataformas atraentes para o leitor. No Brasil, as opções de leitores eletrônicos em celulares ou tablets ainda são incipientes, mas aposto que em poucos anos haverá um mercado significativo. Essa é uma razão. Outra razão foi entendermos que é possível oferecer bom material extra na literatura em formato digital. Por exemplo, se você pega Jane Austen, Orgulho e Preconceito, pode enriquecer o conteúdo digital com descrições de características do período, informações históricas sobre lugares onde os fatos se passam, trabalhos críticos. Tenho confiança na ideia de testar limites editoriais e acho que o Brasil logo terá mercado para isso. Você, que vê esse mercado de perto, o que acha?

O que me chama a atenção é o receio que editores têm de apostar nesse mercado. Tivemos em São Paulo um congresso sobre livro digital, e era dúvida recorrente a questão dos lucros. É possível lucrar com e-books?

Sim, claro que sim, porque o e-book não exige nada de manufatura, não exige investimento em distribuição e estoque. Você ainda tem o investimento, é claro, na edição, na divulgação do livro, mas não há custos físicos. Então a questão é: você pode determinar o preço do livro de forma que o consumidor fique satisfeito, e também o editor? Essa é uma das questões sobre as quais vou falar na Flip.

Já é lucrativo para a Penguin?

Sim, claro. Por que não seria?

Devido à pirataria, por exemplo.

Sim, isso é um fato. Mas no mercado do livro não tem sido como foi no da música. Há várias diferenças. Uma é que a psicologia do consumidor é outra. Na música, é interessante para jovens ter enorme quantidade de faixas no iPod, milhares delas. Não é cool ter milhares de livros no e-reader, porque ninguém conseguirá lê-los. Isso é um ponto. Outro ponto é que a indústria da música descobriu que o consumidor não queria comprar o álbum, e sim a faixa. Então o modelo desenvolvido por muito tempo não era o ideal. Não é o caso do livro. Não temos evidência de que as pessoas estejam interessadas em comprar capítulos, elas querem o livro. E, em terceiro lugar, as pessoas têm relação sentimental com o livro. Uma coisa importante na Penguin é a certeza de que os livros sejam bonitos para que as pessoas queiram ter e colecionar.

Mas na música também havia relação sentimental com álbuns. Será que as novas gerações terão essa relação com os livros?

Não sei! Creio que sim. Acho que há algo duradouro na relação sentimental com o livro. Nos EUA a oportunidade para pirataria e infração de direitos autorais já existe há muitos anos, há muitos sites de upload de conteúdo de livros. Não digo que não seja um problema. É um problema, mas não é "o" grande problema como na música. As vendas na Penguin continuam bem. Não estamos encolhendo, estamos crescendo.

Qual a parcela de livros da Penguin vendida no formato digital
Os e-books chegam a 10% das nossas vendas. O que percebemos foi que há livros mais adequados para o formato digital que outros. Não são categorias totalmente consistentes, mas um novo best-seller, por exemplo, tem mais potencial para conteúdo extra na versão digital que um clássico, já que o próprio autor pode produzir esse conteúdo. O que é interessante é tentar entender o que o consumidor não compra quando compra o e-books, se deixa de comprar o livro hardcover (de capa dura, em geral a primeira edição de livros nos EUA) ou o paperback (tipo brochura).

Você foi citado no ranking dos nomes mais importantes da mídia em 2010 segundo o MediaGuardian por ações no mercado digital. Quais os próximos passos da Penguin nesse sentido?

O interessante desse ranking foi o argumento de que estamos redefinindo a indústria do livro. Alguns dos aplicativos que estamos desenvolvendo serão bem diferentes de tudo o que fizemos até agora. A maneira como apresentamos informações de viagem no iPad, ou como fazemos livros ilustrados para criança virem à vida, ou ainda como envolvemos redes sociais e comunidades de um jeito novo no mercado para adolescente. Isso tudo é muito novo e requer novas habilidades de editores. Significa que temos de entender novas tecnologias, novos critérios para determinar preços, temos de ser criativos na maneira de pensar no leitor. Não diminuo as questões que você levantou, a pirataria, a preocupação com lucro, são questões sérias. Mas, acima de tudo, estamos muito otimistas.

A digitalização de clássicos que o Google promove pode prejudicar as vendas da Penguin?

Bem, você pode obter no Google os clássicos em domínio público, mas, se fizer isso, a experiência de leitura não será atraente. Eles digitalizam e escaneiam manuscritos originais, e estes são os velhos, difíceis de ler. Mas eles no Google são espertos, logo darão jeito de melhorar isso. Com isso, nos desafiam a pensar em como tornar os Clássicos da Penguin realmente atraentes por seus preços. A questão é: o que você compra quando compra nossos clássicos é design, introduções, qualidade de tradução, notas de rodapé. Devemos deixar claro para o leitor o que temos de diferente, porque estamos propondo que comprem por uma quantia razoável de dinheiro algo que podem conseguir de graça. É um desafio interessante.

Cristiane Costa vai mediar a mesa do entrevistado nesta matéria, o John Makinson, com o historiador Robert Darton, na Flip.
O tema: passado e futuro do livro


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